Vocês me perdoem,
mas, eu ainda me assusto com a visão "sacramental" que muitos
catequistas ainda têm da catequese da nossa Igreja. Isso porque, por mais que a
gente leia, discuta, divulgue e promova a visão que a Igreja pós-concílio
prega, ainda tem gente achando que se faz catequese para receber sacramento!
Numa recente
discussão em nosso grupo, estávamos debatendo a validade de se ter crianças na
catequese, cujos pais são evangélicos.
Não dá,
simplesmente não dá, para pensar que em nossa catequese tenha CRIANÇAS SENDO
CATEQUIZADAS a despeito da religião de seus pais. Que eles não sigam religião
nenhuma, e a criança procure uma crença que seja dela, até vai. É um direito da
criança. Assim como é dever dos pais orientá-la nisso. Mas, quando os pais
seguem uma religião protestante ou evangélica e o filho, criança ainda, quer
ser católico, é de doer. Essa desculpa de que a criança "quer", me
lembra do mesmo querer que uma criança tem de um brinquedo que o amigo da
escola possui e ele não.
Que eu saiba, uma
pessoa só atinge a maioridade aos 18 anos e pode, assim, fazer o que quiser e
escolher a vida que quer seguir. Nossos filhos menores não fazem o que querem
nem vão aonde querem sem permissão. Eles não têm maturidade suficiente para
decidir, sozinhos, nada na vida, nem sequer o que vão comer. É nosso dever de
pais proporcionar uma alimentação saudável para eles e, por “incrível” que
pareça, dizer a eles a hora de dormir. Eles também não decidem se querem ou não
ir para a escola, ou ao dentista ou visitar a Vovó. E assim é com muita
coisa. Inclusive com a fé. Um pai e uma mãe, responsáveis, jamais deixariam
seus filhos na porta de uma Igreja: que não frequentam, de uma religião que eu
não seguem; seja para frequentar culto, pregação, catequese ou o que quer que
seja.
Onde então, nós
catequistas, estamos com a cabeça ao aceitar semelhante coisa? Por que tem
criança na catequese católica com pais de outra religião?Por que não vamos
evangelizar e converter estes pais? Que "merreca" de discípulos
missionários nós somos?
Um trecho do DNC só pra esclarecer umas
coisas (Itens 33 e 34):
CATEQUESE E
EVANGELIZAÇÃO
A evangelização é uma realidade rica, complexa
e dinâmica, que compreende momentos essenciais, e diferentes entre si (cf. CT
18 e 20; DGC 63): o primeiro momento é o anúncio de Jesus Cristo (querigma); a
catequese, um desses “momentos essenciais”, é o segundo, dando-lhe
continuidade. Sua finalidade (da
catequese) éaprofundar e
amadurecer a fé, educando o convertido para que se
incorpore à comunidade cristã. A catequese sempre supõe a primeira
evangelização. Por sua vez, à catequese segue-se o terceiro momento: a ação
pastoral para os fiéis já iniciados na fé, no seio da comunidade cristã (cf.
DGC 49), através da formação continuada.
(Em resumo: Evangelização= Anúncio, depois catequese,
depois ação pastoral).
Catequese e ação pastoral se impregnam do
ardor missionário, visando à adesão mais plena a Jesus Cristo. A atividade da
Igreja, de modo especial a catequese, traduz sempre a mística missionária que
animava os primeiros cristãos. A catequese exige conversão interior e contínuo
retorno ao núcleo do Evangelho (querigma), ou seja, ao mistério de Jesus Cristo
em sua Páscoa libertadora, vivida e celebrada continuamente na liturgia. Sem
isso, ela deixa de produzir os frutos desejados. Toda ação da Igreja leva ao
seguimento mais intenso de Jesus (cf. CR 64) e ao compromisso com seu projeto
missionário.
CONVERSÃO, SEGUIMENTO, DISCIPULADO, COMUNIDADE
O fruto da evangelização e catequese é o fazer discípulos:
acolher a Palavra, aceitar Deus na própria vida, como dom da fé. Há certas
condições da nossa parte, que se resumem em duas palavras evangélicas: conversão
e seguimento. A fé é como uma
caminhada, conduzida pelo Espírito Santo, a partir de uma opção de vida e uma
adesão pessoal a Deus, através de Jesus Cristo, e ao seu projeto para o mundo.
Isso supõe também a aceitação intelectual, o conhecimento da mensagem de Jesus.
O seguimento de Jesus Cristo realiza-se, porém, na comunidade fraterna. O
discipulado, que é o aprofundamento do seguimento, implica renúncia a tudo o
que se opõe ao projeto de Deus e que diminui a pessoa. Leva à proximidade e
intimidade com Jesus Cristo e ao compromisso com a comunidade e com a missão
(cf. CR 64- 65; AS127c).
Para maior
esclarecimento e aprofundamento dos conceitos de evangelização, catequese, ação
pastoral, iniciação cristã, formação continuada, catecumenato etc., pode-se
consultar o documento da CNBB: Com adultos catequese adulta, Estudos da
CNBB 80, 2001, cap. IV, nn. 86-124. Sobre a “originalidade da pedagogia da
fé”.
Agora, pergunto eu:
Uma criança de 11, 12 anos ou um adolescente de 13, 14 anos, recém-crismado,
tem maturidade para entender tudo isso sem a mediação dos adultos? Neste caso,
a família, que é a base de sua formação? Porque, sem entender isso, receber a
Eucaristia e a Crisma é mera formalidade sacramental. Não é a isso que a IVC
tanto fala? Mais que uma catequese com adultos, uma catequese adulta, se
faz urgente! A começar por muitos de nossos catequistas...
Angela Rocha
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