Teologia e Espiritualidade do Tríduo Pascal (1/4/2015)
RITOS DE QUINTA FEIRA SANTA
Os
ritos de Quinta Feira Santa darão inicio ao Ciclo das celebrações mais
importantes no calendário da Igreja. Entre todas as semanas do ano, a mais
importante, para os cristãos é a Semana Maior, que foi santificada pelos
acontecimentos que a liturgia celebra, da Paixão, Morte e Ressurreição do
Senhor- o Mistério Pascal.
A
peregrina do séc. V, Etéria, começa sua relação da semana santa em Jerusalém
escrevendo: “O dia seguinte, domingo, é o
começo da semana da Páscoa, ou Semana Maior, como a chamam aqui”
De
fato, esta semana é o coração e o centro de toda a liturgia anual, nela se
celebra o mistério da redenção, o grande sinal do amor de Deus salvador. “A Páscoa é o cume, assim resume esta festa
um escritor dos primeiros séculos”
O
cristão entra nesta Semana com o espírito de paz interior e recolhimento. A
Quaresma foi um tempo de trabalho, disciplina, conversão, cerimônias
penitenciais, agora chegou o tempo de descanso na paixão de Cristo. “Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu
Filho Unigênito” (Jo3,16). Toda a Paixão é sinal deste amor de Deus,
tornado visível em Jesus Cristo.
A
devoção da Semana Santa nasceu da piedade dos primeiros cristãos de Jerusalém,
onde Jesus sofreu a su Paixão. Por isso, desde os primeiros séculos, Jerusalém,
tornou-se lugar de peregrinações para os cristãos que gostavam de visitar os
lugares da paixão. Nós participamos nos mistérios de Cristo não apenas com os
sentimentos ou imaginação, mas antes de tudo com a fé.
TRIDUO PASCAL
O
tríduo pascal começa com a missa vespertina
da Ceia do Senhor, na Quinta feira-Santa, alcança seu apogeu na Vigilia
Pascal, e termina com as vésperas do domingo de Páscoa. Todo este espaço de
tempo forma uma unidade que inclui os sofrimentos e a glória da ressurreição. O
Bispo de Milão, Santo Ambrósio, refere nos seus escritos os “três santos dias” e o Bispo de Hipona,
Santo Agostinho, nas suas cartas chama-os de “os três sacratíssimos dias da Crucifixão, sepultura e ressurreição de
Cristo”
A
Quinta-Feira Santa está marcada pela instituição da Eucaristia, “verdadeiro sacrifício vespertino”
(atualmente é celebrada à noite). O ritual proíbe a celebração da
Eucaristia sem fiéis e recomenda a concelebração, que confere à cerimônia
litúrgica uma nota de eclesialidade eucaristica e de unidade entre eucaristia e
sacerdócio. A cerimônia sugestiva e humilde do Lava-Pés orienta-se também para
a Eucaristia.
Os
textos litúrgicos mostram a entrega de Jesus Cristo para a salvação da
humanidade. Jesus celebra a Páscoa judia, mas oferece o Seu Corpo e Sangue em
lugar do Cordeiro imolado no Templo, para selar a Nova Aliança. O Lava-Pés é
sinal de “amor até o fim” (Jo13m 1).
A transladação solene do Santíssimo Sacramento, é um sinal de continuidade
entre o sacrifício e a adoração da presença sacramental
A Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor é constituída por uma
liturgia austera e sobria. O centro da celebração é uma “sianxis” (assembléia litúrgica) não eucarística que na liturgia
antiga se chamava “missa dos
presantificados”. Os paramentos são vermelhos e a liturgia desenvolve-se em
três momentos:
a liturgia da Palavra, com a leitura do IV cântico do poema do
Servo de Deus (Is 52, 13), a Carta aos Hebreus com a passagem do Sumo Sacerdote
“causa da salvação para os que lhe
obedecem” (Hb 4,14), e a Paixão segundo São João, o teólogo místico que vê
na cruz a exaltação de Cristo.
Às leituras segue-se a oração universal;
a adoração da cruz com a antífona de origem bizantina “adoramos Senhor a Vossa cruz...pelo madeiro
veio a alegria a todo o mundo” e os
impropérios nos quais Jesus reprova a ingratidão do povo (“Povo meu que te fiz Eu/em que te contristei?...);
a comunhão com o Pão eucarístico consagrado na tarde (noite) de
Quinta-Feira Santa.
A piedade popular gosta de participar da procissão do Enterro do
Senhor e comove-se com a presença da Senhora da Soledade acompanhando o seu
Filho morto.
A Sexta-feira Santa é um dia de intenso luto e dor, mas
iluminado pela esperança cristã. A devoção á Paixão do Senhpr está fortemente
arraigada na piedade cristã. A peregrina Etéria, ao descrever as cerimônias de
Jerusalém, por volta do ano 400, diz: “dificilmente
podeis acreditar que toda a gente, idosos e jovens, chorem durante essas três
horas, pensando no muito que o Senhor sofreu por nós”.
A Igreja apresenta a grande austeridade, nada distrai o nosso
olhar do altar e da cruz, o povo cristão fica vigilante junto à cruz do senhor
e da Santa Virgem da Soledade.
SÁBADO SANTO
O grande Sábado Santo, é mais um dia de serena esperança e
preparação orante para a ressurreição. Os cristãos dos primeiros séculos
jejuavam neste dia como na sexta-feira santa, era o tempo em que o noivo tinha
deixado (Mc 2,19)
Durante o dia o Oficio Divino é rezado perante o altar
desnudado, presidido pela cruz, e tem um acento de meditação e repouso. A
piedade cristã ora perante a imagem da Virgem das Dores, “ela no grande Sábado, recolheu a fé da Igreja...só ela entre os
discípulos esperou vigilante a ressurreição do Senhor” (Missa da Virgem
Maria).
VIGILIA PASCAL
A Vigília Pascal é uma vasta celebração da Palavra de Deus que
continua com o Batismo e com a Eucaristia. Os símbolos são abundantes e de uma
grande riqueza espiritual-
o ritual do fogo e da luz que evoca a ressurreição de Jesus e a
marcha de Israel no deserto guiado pela coluna de fogo;
a liturgia da Palavra com Salmo e oração, percorrendo as etapas
da história da salvação;
a liturgia da iniciação cristã que incorpora novos filhos e
filhas na Igreja;
a renovação das promessas do Batismo e aspersão com água benta
que recorda a água do nosso batismo;
por fim a Eucaristia que proclama a ressurreição do Senhor e a
sua última vinda (I Cor 11,26).
A liturgia convoca de novo os fiéis para o “dia que fez o Senhor” na missa do dia. A piedade cristã realiza a
procissão de Cristo Ressuscitado, ornamentando as estradas, soltando fogos,
tocando sinos e ao som da música entoa “Regina
coeli” (Rainha do Céu) à mãe de Jesus. O Aleluia, que fora suprimido na
Quaresma, aparece repetidas vezes em sinal de alegria e vitória, de forma que o
Aleluia pascal se tornou a aclamação própria do mistério da Páscoa.
A magnífica liturgia pascal põe em relevo uma nota escatológica
que indica a meta para onde nos dirigimos seguindo Cristo e que São Paulo
apresenta na Carta aos Corintos: “Sempre
que comemos deste Pão e bebemos deste cálice, anunciamos a Tua morte, Senhor,
até que venhas” (I Cor 11,26)
D. Teodoro de Faria, Bispo emérito de Funchal
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